Data de 2014 o
lançamento desse primeiro livro de Carol Rodrigues, agraciado, no ano seguinte,
com o consagrado Prêmio Jabuti. Formada em Imagem e Som pela (Universidade
Federal de São Carlos) e em Estudos de Performance (pela Universidade de
Amsterdam), a autora parece ter imprimido mesmo em seus contos uma singular
dinâmica que se verifica tanto na expressão imagética (em especial no cinema)
quanto na performática.
São, nesse
sentido, contos ágeis, reveladores de
uma especial estrutura narrativa em que o que mais importa é o fluxo do contar,
a linguagem sem freios, a cena breve e aguda. Enfim, contos escritos ao correr da pena, mas sem os
comprometimentos que essa prática pode sugerir ou resultar.
A
linguagem, aliás, é talvez o que mais chama a atenção do leitor, em geral pouco
habituado aos contornos de um estilo livre de amarras da sintaxe e da pontuação:
linguagem contínua, caudatária de uma tradição “portuguesa” que tem no fluxo de consciência sua principal marca
(de Clarice Lispector a Valter Hugo Mae). Trata-se, contudo, de um fluxo de
consciência expresso em terceira pessoa, o que não é comum... Chega-se, assim,
a um estilo singular, em que o narrador e o narrado parecem caminhar lado a lado
por entre os meandros da própria narrativa. Em suma, o que se percebe da
leitura de Sem vista para o mar é a
constância de um estilo performático, marcado pela agilidade, o que confere aos contos um ritmo impressionantemente
dinâmico.
Do ponto de
vista do conteúdo, a autora elege temas polêmicos, retratados, contudo, sob o
prisma da sensibilidade poética, em que a crítica dura e explícita é
substituída por uma mais sutil e sugestiva. A autora, assim, capta o cotidiano
em pequenos flashs tomados à frio,
repentinamente, o que faz jus ao subtítulo contos
de fuga.
Um
exemplo cabal desse modo de narrar é seu conto “Um homem prudente”, já premiado
anteriormente e que faz jus a toda essa dinâmica acima destacada: a narrativa
segue o ritmo da viagem de caminhão ali representada literariamente; o fumo
mascado, a lembrança da prisão, o coração de pelúcia vermelha balançando ao
sabor das imperfeições da estrada... Num instante, emerge da conversa sem
compromisso um triângulo amoroso inesperado – algo rude, algo inusitado:
engolir o seco, bater no fígado, barrar a naúsea! E sem final feliz.
Contos
de fuga!
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